Você já ouviu falar sobre o termo “neologismo”? Provavelmente não, mas já deve ter se deparado com vários exemplos dele por aí.
O neologismo é a ocorrência de palavras ou expressões novas, criadas ou emprestadas de forma recente de outra língua, resultantes de mudanças culturais, sociais, tecnológicas, etc. Elas podem surgir para explicar conceitos, objetos inéditos ou para simplificar a forma de dizer sobre um objeto ou um fenômeno. O contato entre comunidades linguísticas refletem lexicalmente e constituem uma forma de desenvolvimento do conjunto lexical de uma língua.
Agora, sabendo disso, você diria que estrangeirismo e empréstimo são a mesma coisa? Se você respondeu que não, está completamente certo! Veremos, então, de maneira simples, a diferença entre esses dois conceitos.
ESTRANGEIRISMO
Em relação ao estrangeirismo, percebemos que seu nome é bem sugestivo, sendo assim, quando pensarmos em estrangeirismo iremos lembrar que são vocábulos que ainda são considerados estrangeiros à língua receptora, ou seja, ainda não consideramos ele como integrantes do nosso léxico. Dessa forma, revelam-se estrangeiros em seus morfemas, na flexão e até mesmo na grafia.
EMPRÉSTIMO
O primeiro conceito, o empréstimo, está diretamente relacionado a palavras que se tornaram tão familiares aos falantes de uma língua que deixaram de ser consideradas estrangeiras. Podemos afirmar que essas palavras agora estão completamente integradas à língua que as adotou. Você conseguiria imaginar outra forma para chamarmos o mouse do computador? “Rato”? Talvez essa opção não seja amplamente aceita. Ou, talvez, um jeito “abrasileirado” de mencionar “abajur”? Palavras como essas estão tão enraizadas em nosso vocabulário que, por vezes, nos esquecemos de sua origem, são integrantes de outra língua.
Esses itens são facilmente encontrados em vocabulários técnicos (esporte, economia, informática) e também podem ser utilizados como forma de economia linguística, imagine poder substituir “ferramenta de marketing, formada pelo conjunto de técnicas responsáveis pela informação e apresentação destacada dos produtos no ponto de venda, de tal maneira que acelere sua rotatividade” pela simples palavra “Merchandising”, bem melhor, não é?
Outra forma de aplicar o estrangeirismo é por meio de motivação apelativa, de modo que a utilização de uma palavra em outro idioma, às vezes, receba um aparente caráter de maior importância. Imagine que podemos dizer ao nosso colega que somos “bachelor” ao invés de dizermos que somos solteiros, ou então nos designarmos “promoteur” no lugar de organizador. Ambas as palavras, “bachelor” e solteiro, tem o mesmo valor semântico, contudo, essa substituição de vocábulos traz a motivação apelativa.
Alguns processos ocorrem com as palavras emprestadas desde quando ela chega na língua, até ser aceita, como os seguintes:
TRADUÇÃO DO ESTRANGEIRISMO
Nem todo mundo consegue compreender o significado de uma palavra estrangeira utilizada em um texto, principalmente porque a palavra não está tão difundida. Por esse motivo, um dos recursos empregados pelo emissor para facilitar a recepção da mensagem é a inclusão da tradução junto à unidade lexical estrangeira.
Muitas palavras que usamos no nosso dia a dia vieram de outras línguas, e agora estão tão cristalizadas no nosso idioma que nem percebemos e as usamos corriqueiramente, como: hambúrguer, pizza, outdoor, ketchup, maionese, mostarda, instagram, piquenique, internet, mouse, e tantas outras. Algumas se adaptaram à escrita da nossa língua portuguesa, outras se mantiveram na sua forma original, mudando um pouco na pronúncia para se adaptar aos padrões do português. Atualmente, com a globalização e a internet muitas novas palavras de outras línguas estão sendo usadas pelos falantes, principalmente da língua inglesa, levantando interessantes questões linguísticas para serem analisadas.
INTEGRAÇÃO DO NEOLOGISMO
Na fase do estrangeirismo, a palavra ainda não está integrada na língua, o processo de integração só acontece através de uma adaptação ortográfica, tornando a estrutura mais brasileira, ou mesmo com a aceitação da forma escrita original, através do uso.
Mesmo com a integração de somente um significado, a palavra estrangeira pode ser objeto da polissemia, ou seja, pode vir a possuir mais de um significado.
DECALQUE
O decalque é um processo que acontece com a palavra estrangeira, que chega até a língua e os falantes criam uma tradução, literal ou não, que corresponde àquela estrangeira, no nosso caso, dentro do português. Ou seja, um significado exatamente igual ao nosso. Sendo assim, a palavra decalcada começa a disputar o uso com o termo estrangeiro.
Qual seria então a diferença do decalque para a polissemia? O decalque é a tentativa de corresponder ao termo estrangeiro e a polissemia são as possibilidades de significado que ela pode apresentar em diferentes contextos e adaptações.
CLASSE GRAMATICAL, GÊNERO E NÚMERO
As palavras vindas de outra língua normalmente continuam com sua classe gramatical de origem, mas também podem sofrer a influência da língua receptora e se adequar aos morfemas dela, como por exemplo “stalkear”, que veio de stalk, um verbo na língua inglesa. Se fôssemos levar em consideração que stalk já é um verbo, não precisaríamos de acrescentar “ear”, porém a configuração da língua portuguesa é diferente. “Stalkear” continuou sendo verbo, mas há casos em que as palavras podem mudar de classe gramatical com o processo morfológico, ou seja, era um verbo e virou um adjetivo na outra língua. Outro exemplo é o verbo “tank” que virou “tankável”, um adjetivo, significando algo que você consegue aguentar, mas ele também pode ser um verbo se colocarmos o sufixo “ar”, tankar.
Em relação ao gênero das palavras, se vão ser masculinas ou femininas, e ao número, como será feito o plural, vai depender se elas sofrerão processos morfológicos ou não. Se sim, elas seguirão as regras do português, como em “uberização”, palavra feminina devido ao sufixo.
Quando não se tem um morfema que indique o gênero da palavra, os falantes irão escolher de acordo com sua percepção, em “o job”, “o plot twist”, “a deadline”, “o budget”, “o/a crush”, percebemos que as palavras podem variar de acordo com as necessidades de cada língua, como em “crush” com os dois gêneros. Em relação ao número das palavras, normalmente colocamos o sufixo “s” para formar o plural em português, então mesmo se a palavra não passar por um processo morfológico complexo, podemos colocá-la no plural simplesmente adicionando um “s”.
Abaixo, seguem-se alguns exemplos de palavras neológicas dessa categoria:
Coachização
Origem: inglês
Palavra de origem: coach
Significado: discurso que se transforma em palestra.

https://twitter.com/mariaepessoa/status/1661861937745895430/photo/1
2. Baitar
Origem: inglês
Palavra de origem: bait
Significado: enganar, criar uma armadilha.

https://twitter.com/JMBassist/status/1730602530566979596?t=fGTxpiRon7cKA0ehnt3Y8g&s=19
3. Redpillado
Origem: inglês
Palavra de origem: red pill
Significado: aquele que tomou a “red pill”, pílula vermelha, e vai contra o que está preestabelecido.

https://twitter.com/VitorLocked/status/1730087582283837751?t=D04CaozXYHD32tiNplPh0g&s=19
4. Cuttizar
Origem: inglês
Palavra de origem: cutting
Significado: tentativa de perder bastante gordura corporal.

https://twitter.com/kikilocatelli/status/1625595608634368014?t=zU_61GH35EYgTFRCoKatfQ&s=19
Isso que apresentamos foi um pouquinho do universo que envolver o neologismo por empréstimo. Todos os dias há algo novo para explorar nesse campo. Esperamos que, tanto quanto a gente, tenham se divertido com essa aventura!
GRUPO
Saullo Oliveira
Stefany Correia
Schaiene Assis
REFERÊNCIAS
ALVES, Ieda Maria. Neologismo criação lexical. 2. ed. São Paulo: Ática, 2004.
ALVES, Ieda Maria. INTEGRAÇÃO DE ESTRANGEIRISMOS À LÍNGUA PORTUGUESA. A língua portuguesa no mundo, [S. l.], p. 1-14, 2008. Disponível em: https://dlcv.fflch.usp.br/sites/dlcv.fflch.usp.br/files/02_17.pdf. Acesso em: 3 dez. 2023.
Post formoso, post bem feito!
Adorei os exemplos e a explicação.
Os neologismos por empréstimo são interessantíssimos.