Você já se questionou sobre como as palavras são formadas? Ou já quis entender por que algumas palavras são duplas?
Veja bem, quando falamos em formação de palavras, dois processos se destacam: derivação e composição. Na derivação, é como se a palavra ganhasse um acessório extra: um prefixo na frente ou um sufixo no final. Esses pedacinhos mudam o sentido da palavra, sua intensidade ou até sua classe gramatical. Por exemplo, feliz pode virar infeliz (com o prefixo in-) ou felizmente (com o sufixo -mente). Já a composição é diferente: em vez de colocar acessórios, ela faz uma junção de duas bases que já existem.
O mais interessante é que, na composição, não há funções predeterminadas para os elementos. O que define o papel de cada parte é a estrutura formada na nova palavra. Basicamente temos a composição de bases presas (que não é o foco desse texto, então dê um google aí) e a composição de bases livres - que nada mais é do que a junção de palavras que já vivem muito bem sozinhas (obrigada) com outras palavras que estão na mesma situação. O processo é simples: pega-se uma base aqui, outra base ali, e pronto, tem-se uma nova palavra, como em guarda-chuva ou luso-brasileiro.
Esse processo de formação de palavras ocorre de várias formas. Uma delas chama-se nomeação descritiva, e é um tipo de composição que não faz rodeios, pois descreve os objetos pelas suas características mais importantes. Veja só:

No exemplo acima, o termo sofá-cama une dois objetos pelos atributos que o definem: um sofá que também se transforma em uma cama e vice-versa. No mesmo sentido, temos os termos papel-alumínio e navio-escola, que são auto explicativos e fáceis de compreender o sentido.
Agora, nem sempre entendemos a nomeação descritiva de forma tão clara. No caso de sofá-cama compreendemos rapidamente, mas em guarda-vestido, por exemplo, a palavra não entrega de cara que se trata de um armário, poderia ser uma mala ou até mesmo um baú.
Acompanhe o tópico seguinte para entender outra categoria de composição de bases livres.
Novas palavras e muita ironia, ou apenas a composição metafórica
Se por um lado a nomeação descritiva visa descrever algo objetivamente, a composição metafórica faz muitas associações que unem criatividade e diversão. Nesse processo de formação de palavras,, aos invés de descrever objetivamente, a composição faz uma associação, muitas vezes divertida. Um exemplo clássico é o docinho olho-de-sogra. Ele lembra um olho e até aí tudo bem. Mas por que “sogra”? Bom… nossa cultura já responde essa parte com uma pitada de humor ácido. Esse tipo de composição mostra como a língua não é só lógica, mas também cultural e por isso, carente de termos que definam a complexidade humana. Observe o exemplo seguinte:

No tuíte, o termo quarentena iôiô - um neologismo usado para definir as nuances do período de pandemia em que os comércios abriam e fechavam - sem uma regularidade acerca de seu funcionamento, é uma palavra composta por bases livres, que juntas criam um novo significado, mais fácil de compreender, inclusive. O mesmo ocorre com o termo novo normal, onde a junção de dois termos criam um novo sentido, indicando que a quarentena é, agora, a nova realidade das pessoas .
Por fim, a composição de bases livres é, portanto, um processo de formação de palavras que combina função semântica com estrutura sintática. Seu objetivo principal é nomear e caracterizar seres, objetos e eventos, de forma descritiva ou metafórica. Por isso, ela se mostra mais presente no nível coloquial, regional e espontâneo da língua, enquanto a derivação aparece mais frequentemente na linguagem formal e em produções estáveis.
Nunca tinha pensado sobre a questão do olho de sogra... Adorei!