Texto escrito por: Augusto, Pâmella e Laís.
A língua está sempre mudando. Ela é viva, respira e se reinventa a cada geração. No Brasil, isso é ainda mais evidente: temos uma criatividade linguística que se manifesta no dia a dia, nas redes sociais, nos memes, nas músicas e até nos games. O brasileiro tem um talento especial para inventar palavras no improviso, criando expressões que parecem nascer da pura espontaneidade, mas que, na verdade, seguem mecanismos explicados pela morfologia.
Muitas vezes, a gente nem percebe que está aplicando processos de formação de palavras que os estudos linguísticos descrevem com clareza. Nesse post, vamos falar sobre a derivação prefixal e sufixal, que combina elementos antes e depois da palavra-base para gerar novos significados. Do “infarmável”, que surgiu no universo gamer, ao “enlabubuzar”, que viralizou na internet, tudo isso passa por técnicas conhecidas e estudadas pela morfologia. Vamos ver como funciona.
Derivação prefixal e sufixal
Quando prefixo e sufixo entram juntos na formação da palavra.
Enlabubuzar é derivação prefixal e sufixal? Não.
enlabubuzar (en- + Labubu + -zar) → transformar algo ou alguém no “estilo Labubu”: popular, genérico, excêntrico, em alta.
No tweet citado, os influenciadores Sofia Santino, Doarda e Ciclopin postaram uma foto com Thalita Meneghim, e um usuário respondeu: “eles estão enlabubuzando”.
Essa expressão pode ser interpretada como a ideia de que os três primeiros produzem conteúdo voltado para um público específico e, ao se unirem a Thalita, que tem um conteúdo mais amplo e de apelo geral, assim como o próprio personagem Labubu, passam por um processo de “enlabubuzação”, ou seja, de aproximação a um estilo mais popular, genérico e em alta.
Observação: enlabubuzar é um exemplo de derivação parassintética, pois a formação da palavra ocorre com a adição simultânea de um prefixo (en-) e de um sufixo (-zar) a uma base (Labubu), de modo que a palavra só existe com os dois afixos juntos. Se apenas um deles fosse acrescentado, não resultaria em uma forma reconhecida ou com significado estável.
Desbancarização é derivação sufixal e prefixal? Sim.
desbancarização (des- + bancar + ização) → processo de retirar alguém ou algo do sistema bancário tradicional, deixando de usar serviços financeiros formais.
No tweet acima, a usuária comenta sobre “desbancarização” ao compartilhar a foto de um estabelecimento que não aceita PIX nem cartões de crédito/débito. No sentido técnico, desbancarização refere-se ao processo de abandonar bancos tradicionais para utilizar bancos digitais ou alternativas financeiras fora do sistema bancário convencional. No tweet, o termo é empregado de forma bem-humorada e criativa, gerando uma nova interpretação: a ideia de “sair” não apenas dos bancos tradicionais, mas também de qualquer sistema bancário ou meio eletrônico de pagamento, ampliando e brincando com o significado original da palavra.
Outro exemplo:
intankável (in- + tank + -ável) → algo ou alguém que não é possível “tankar”, ou seja, suportar, aguentar ou resistir (gíria comum no universo gamer).

No tweet acima, a usuária utiliza o termo intankável para descrever o trânsito após o retorno das aulas. A palavra, originada da gíria gamer “tankar” (suportar, aguentar, resistir), é combinada com o prefixo in- (negação) e o sufixo -ável(possibilidade), formando a ideia de algo impossível de aguentar. Nesse contexto, “intankável” é usado de forma figurada e bem-humorada para expressar que o trânsito fica insuportável quando as crianças voltam à rotina escolar.
Outro exemplo:
infarmável (in- + farmar + -ável) → algo que não é possível “farmar”, ou seja, obter recursos, vantagens ou progresso em um jogo (gíria comum no universo gamer, como no jogo League of Legends).
No tweet acima, o usuário comenta de forma crítica e bem-humorada sobre mudanças nos eventos do League of Legends, descrevendo-as como “infarmáveis”. O termo é usado para indicar que as alterações tornaram impossível ou extremamente difícil “farmar” durante os eventos, expressando insatisfação com a situação.
Outras palavras – derivação prefixal e sufixal
inshipável → que não dá para “shippar” (torcer por casal).
desinformação → ato ou efeito de espalhar informação falsa.
infelizmente → de forma triste ou lamentável.
desnecessário → que não é preciso ou obrigatório.
insuportável → que não se consegue tolerar.
desproporcional → que não mantém relação equilibrada entre partes.
indispensável → que é essencial.
desrespeitoso → que não demonstra respeito.
incontrolável → que não se pode controlar.
inclassificável → que não se pode classificar.
Resumo rápido:
Prefixo = acrescenta no começo.
Sufixo = acrescenta no final.
Prefixo + sufixo = acrescenta no começo e no final.
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Post intankável, muito bom.
Ótimas definições! Post muito esclarecedor.